sexta-feira, 1 de julho de 2011

Casa da família Matarazzo, Av. Paulista

O fim de um marco

A mansão Matarazzo, já desabitada e abandonada em 1994- Crédito: Acervo Matarazzo / Everton Calício

Um dos locais mais ilustres da avenida mais famosa da cidade ficou órfão definitivamente da simbiose e da lenda que marcava sua denominação. O terreno onde ficava a antiga residência da família Matarazzo perdeu no último dia 20 de maio sua alma. O que havia sobrado da antiga mansão, o pórtico de entrada mais a antiga entrada pela Rua São Carlos do Pinhal e alguns bancos foram demolidos para dar lugar a futura Torre Matarazzo, um shopping com torres de escritório que está sendo erguido no local.

A primeira residência Matarazzo que foi construída no local data de 1896, cinco anos após a abertura da Avenida Paulista. Projetada pelos arquitetos italianos Giulio Saltini e Luigi Mancini, a primeira mansão existente no local ficou de pé até o início dos anos 1940. Em sua primeira fase, a mansão servia como residência para aquele que foi considerado o principal industrial brasileiro e criador do maior império industrial que o Brasil já teve; as S/A Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo-IRFM, ou simplesmente a Matarazzo, o Conde Francesco Matarazzo.

Primeira Mansão Matarazzo, década de 1910  Crédito: Acervo Matarazzo / Everton Calício


 Um dos primeiros carros de São Paulo, com a placa SP-1 na frente da Mansão, década de 1910-Crédito: Acervo Matarazzo / Everton Calício
Localizada no número 1230 da Avenida Paulista, a casa sofreu uma grande mudança em sua estrutura e arquitetura no início da década de 1940 quando o Conde Francisco Matarazzo Júnior, o penúltimo de trezes filhos de Matarazzo e escolhido como sucessor nas empresas manda elaborar um novo projeto para
a casa. Este projeto, atribuído a Marcello Piacentini, o mesmo que projetou o Edifício Conde Matarazzo, foi executado pelo escritório de Severo & Villares. Palco da aristocracia paulistana, a Mansão Matarazzo foi cenário de uma das maiores festas sociais que ocorreram na cidade.

Considerada a “milésima segunda noite da Avenida Paulista” a festa marcou o casamento de Filomena Matarazzo, a Filly, com João Lage, milionário carioca. A festa teve duração de três dias e três noites e todos os convidados saíram da casa de 16 salas e 19 quartos agraciados com canetas tinteiro, banhadas a
ouro.

A fase aristocrática do terreno só iria diminuir a partir da década de 1980, após a morte do seu morador mais longevo, o Conde Chiquinho, em 1977. Logo após, a residência serviu de domicílio para Maria Pia Matarazzo, filha de Chiquinho e que havia assumido as empresas da família e sua mãe, a Condessa Mariângela, que viveu até os 100 anos de idade em 1996. A casa ficou pós período aristocrático habitada até 1989, quando a Condessa se mudaria para um apartamento junto com sua filha Maria Pia na região da Rua da Consolação.

Entrada frontal da residência Matarazzo - Avenida Paulista, década de 1940  Crédito: Acervo Matarazzo / Everton Calício

Após ficar sem uso, a mansão foi alvo de disputa entre a família Matarazzo e a prefeitura paulistana, que no final, perdeu o processo que previa o tombamento do local para existir ali um Museu do Trabalhador. Em 1995, a família transforma os antigos jardins da Mansão em estacionamento para fazer receitas para pagar o valor milionário do IPTU do local, cerca de R$ 400 mil reais por ano.

Finalmente, não mais resistindo a Mansão Matarazzo acabou desabando numa noite de janeiro de 1996, levando consigo parte da história da cidade e de seu desenvolvimento.


Colaboração: Everton Calício, 25 anos é securitário, pesquisador e memorialista sobre as Indústrias Matarazzo e a Família Matarazzo no Brasil. Atua como diretor do Museu Histórico “Dr. Eduardo de Campos Rosmaninho” da Associação Portuguesa de Desportos.


Contato: calicio@gmail.com


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